quinta-feira, 7 de março de 2013

[Crítica] Homem da Máfia


O gênero Máfia foi sempre um tema muito bem explorado pelo cinema americano, que servia, em sua maioria, como plano de fundo para um estudo de personagens variado. Os Bons Companheiros fala do complexo de inferioridade, já O Poderoso Chefão é estudo complexo de frieza e emoção; essa é a linha tradicional do gênero. 

O Homem da Máfia (tradução brasileira muito ruim, por sinal) é diferente. Apesar de muito comparado à Drive, outro filme de máfia atual, parece que o novo longa de
Andrew Dominik (O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford) vai para um caminho oposto: enquanto Drive é extremamente saudosista e serve sim como um estudo de personagem, O Homem da Máfia desenvolve um argumento global e adapta o mito dos mafiosos para os dias atuais - mais precisamente na recente crise econômica americana.

A história é baseada no livro homônimo de George Higgins, e acompanha Jackie Cogan (Brad Pitt), um homem que investiga um assalto que aconteceu durante um jogo de altas apostas no pôquer. Ele descobre que a máfia está envolvida no roubo, e precisa resolver a situação.

Sempre criando uma atmosfera paranoica e tensa, Dominik é hábil ao acrescentar um extremo realismo no movimento da câmera e na fotografia - nos poupando de um trilha sonora artificial - e assim, quando a violência dá as caras é, em todos sentidos, pesada - já que o sangue não é poupado nos efeitos especiais. Assim, já quando o protagonista Jackie diz que gosta de matar de forma fria e anti-sentimental, o diretor prefere mostrar a morte de uma forma extremamente romântica - com direito a slow motion - em uma tentativa muito bem sucedida de ironizar.
O ambiente, além de tenso (destaque para a cena do roubo), é realista e moderno. Boston é retratada de forma miserável e nada glamourizada - assim como os próprios mafiosos. Em todos os momentos nos sentimos no meio de um lixo. Isso também vale à maioria dos diálogos banais e sujos, onde o diretor dá um destaque com planos longos, sendo que nada disso tem a acrescentar na trama, mas sim no clima - uma clara influência "tarantinesca".
Entretanto, o grande destaque não vai para a trama ou os personagens. Veja, O Homem da Máfia é um filme de ideias. Não é um exercício de gênero, mas sim uma obra com um propósito sério: criticar a política e os valores capitalistas americanos. E o roteiro achou uma perfeita analogia para isso. O fato de passarmos no cotidiano da máfia é uma mera desculpa para algo maior. Enquanto Cogan vai bolando bandidagem, o filme também divide o espaço intercalando no fundo - pelas TVs - com discursos do Obama e as notícias sobre o escândalo financeiro. Assim, um paralelo é feito: o tão glamourizado "estilo de vida americano" (capitalista, corporativo e burocrático) não é tão diferente dos mafiosos - já que ambos são movidos pela ganância, tomando atitudes desumanas.
Assim, talvez não seja tanta coincidência que Brad Pitt, em seu papel de Cogan, tenha um visual muito parecido com outro papel seu: Tyler Durden, em Clube da Luta (filme centrado num personagem niilista, na completa desconstrução da América). Seu figurino, jeito de falar e andar, remetem muito ao seu personagem mais famoso.

Por isso que a ação nem faz tanta falta (o filme tem um ritmo mais lento), já que o longa é tão excelentemente preenchido por argumentos e diálogos inteligentes, que saímos da sessão imersos na pura reflexão.
O humor negro também é muito bem usado, e o personagem de Pitt vive ironizando os discursos otimistas de Obama - como se os EUA tivesse direito à isso. E o diálogo final, ácido e puramente pessimista, encerra de forma magistral a história.

NOTA:





9 Jokers!




Trailer:


NOTAS DA EQUIPE:
Vinicius: 9/10
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