quarta-feira, 22 de maio de 2013

[Fodastico!] Levada da Breca

Esse é o Cinema. Há mais de 70 anos um tal de Howard Hawks chegava pra fazer uma tonelada de filmes, acabando como uma das filmografias mais completas já feitas por um diretor, variando do romance, comédia, ação e westerns, sendo na sua época colocado no mesmo degrau que o gigante Alfred Hitchcock. Infelizmente, atualmente, seu nome não tem tanto destaque, porém merece bastante. 

Apesar de sempre revolucionar o Cinema de Gênero, fazendo obras com premissas tão diferentes, Hawks sempre manteve algo em comum - a sua assinatura, sua doce visão. 

O filme narra a história de David Huxley (Cary Grant), um paleontólogo com casamento marcado, vai jogar golfe com o objetivo de agradar seu oponente e facilitar a doação de 1 milhão de dólares para o museu onde trabalha. Até que conhece Susan Vance (Katharine Hepburn), uma rica herdeira acostumada a ter tudo o que quer, mas completamente inconsequente. Susan decide se casar com David, mas para mantê-lo ao seu lado ela utiliza todos os recursos possíveis, transformando a vida do pacato homem em uma sucessão interminável de problemas.

Nascendo como o primeiro (e melhor) filme da maravilhosa parceria entre o diretor e o carismático Cary Grant, Levada da Breca é uma das experiências mais divertidas que o cinema pode oferecer. Começando pelo ator, que já no seu inicio dessa longa jornada que os dois percorreram juntos, esbanjava carisma, mostrando como consegue acrescentar um ar singular em cada um de seus papéis (pegue seu outro personagem, Geoff, e verá que são opostos), dominando as pequenas nuances para acrescentar profundidade àquele típico arquétipo hawksiano - que varia muito, vale dizer.
Porém, se a direção de atores já é impressionante, o timing cômico de Hawks é ainda maior (Levada da Breca é um dos filmes mais engraçados que eu já vi, com certeza). Ele domina a forma de como deixar elementos apenas na sugestão, na ironia sutil (algo fundamental na comédia, obviamente), esconder as piadas mas, ao mesmo tempo, para equilibrar, esfregar outras na nossa cara - um humor escrachado sofisticado. Veja, por exemplo, na hora da aparição do leopardo, como ele demora para mostrar o animal, focando principalmente nas expressões bizarras dos atores. É uma construção de clima genial, sempre surpreendendo o espectador. 
Mas os filmes de Hawks priorizam, acima de tudo, os diálogos. Ele os usa como um Ás na manga, servem para dar o tom, sem jamais soarem expositivos. Suas comédias soam sempre como um jogo de ping-pong, com falas sendo rebatidas rapidamente, de forma ágil, acrescentando um ritmo frenético e delicioso - vide toda a sequência da prisão, um caos delirante que arranca gargalhadas (e ele veio a repetir isso em Jejum de Amor).
É curioso notar também que, apesar de seus filmes seguirem uma estrutura tão formal e quadrada, flertam sempre com o exotismo, os ambientes naturais, excitantes e misteriosos (como podemos ver em Paraíso Infernal ou Hatari, por exemplo); pois a essência de seus filmes se tratam do homem em conflito com seu estado comum (o bêbado tentando superar seu alcoolismo em Rio Bravo, a jornalista que de repente volta à sua caótica vida em Jejum de Amor ou mesmo o homem que está indeciso entre voar de avião ou amar em Paraíso Infernal - só pra citar alguns exemplos), dos homens que são chamados pela sua natureza, para a aventura, a descoberta ou mesmo o amor - isso que nos diferencia das outras espécies, talvez. Vemos no inicio do filme um CDF certinho e entediante, mas depois o vemos se transformar em um leopardo ou, como sua mulher o define no final, "uma borboleta" (vale destacar também como os figurinos tratam a completa desconstrução de sua persona, sendo que no inicio ele usa terno e óculos, para no final estar completamente "limpo", sem nenhuma dessas vestimentas usuais), sendo a mulher que ele mais clamava odiar acabando como o amor de sua vida e o que seria o pior dia de sua vida (por ter saído dos planos) acabando como o melhor. 
Pois, afinal, os filmes de Howard Hawks são a definição da aventura clássica, seja a de pura ação como também amorosa (e que muitas vezes estão diretamente ligadas, como aqui), onde vemos um personagem descobrir sua própria identidade mascarada. São nos filmes dele que vemos aquelas jornadas absurdas, o amor puro, a comédia deliciosa de um carisma singular... são apenas nos filmes dele que vemos toda essa paixão pelo ato de fazer filme.

Ah... esse é o Cinema...

NOTA:




10 Jokers!

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