quinta-feira, 7 de março de 2013

[Crítica] Amor


Conhecido como um cineasta extremamente perturbador e pessimista (vide Violência Gratuita e Fita Branca), Michael Haneke vem como novo projeto um filme que destoa de sua fama. Deixe-me esclarecer: o filme mantém o pessimismo, mas tira a violência para dar as caras à sutileza, melancolia e angustia - expondo uma realidade que, infelizmente, todo ser humano tem dificuldade de enfrentar.

(Avisando que essa crítica revela pontos importantes do enredo)

Georges e Anne estão na faixa dos oitenta anos. Ambos são professores de música aposentados. Sua filha, que também é musicista, mora no exterior com sua família. Um dia, Anne sofre um derrame e o vínculo amoroso do casal é severamente testado.

Contando com dois monumentos de atuação do cinema francês, a escolha do elenco é mais do que perfeita: Emmanuelle Riva compõe uma personagem frágil, que tenta resgatar sua dignidade através da arte (perceba que ela tenta ler e tocar a qualquer custo), e é natural o surgimento da empatia, fazendo com que entremos na pele da personagem, assim como em seu drama: flertar com 'o fim' todo minuto - angustiante. Assim como Jean-Louis Trintignant consegue entrar num personagem cheio de preocupações e bloqueios, logo fazendo com que o espectador questione se agiria, de fato, da maneira certa.

Atrás das câmeras, Haneke é econômico, porém não menos genial: de inicio ele se preocupa em captar o máximo possível de cômodos, compondo um ambiente iluminado e espaçoso, porém, quando a situação da protagonista começa a apertar, a câmera é fechada, escura - sensação de claustrofobia é inevitável.

A repetição dos elementos (o marido tentando dar água para mulher) é necessária: tudo é posicionado para pura angústia, fazendo do filme a própria repetição da morte: o prólogo mostra Anne morta e, mesmo assim, durante a película torcemos para que fique viva; só que não há o que fazer, o fim é inevitável.
Pois Amor está longe de ser um filme sobre amor ou romance - só se for da falta de. Na verdade, essa obra trata sobre o medo da morte e a falta de aceitação da única certeza que nos cerca desde que nascemos. Georges hesita quando é convidado para um enterro, tranca a mulher no quarto para manter sua imagem e, para não ver tal acontecimento de forma natural, até a mata (para logo depois ter alucinações achando que está viva e perfeitamente saudável). Se o velho estivesse mais preocupado em fazer aqueles momentos finais valerem, talvez sua mulher não tivesse sofrido tanto, talvez achasse forças.
As opções do diretor são perfeitas: sem trilha sonora ou qualquer perfumaria, o fim (da vida, do amor e da paixão) é tratado de forma seca, crua... difícil de engolir. Um casal isolado, pouco se fala, e quando recebe visitas (da filha, por exemplo) é só de histeria, falando de dinheiro. Anne, numa tentativa de escapar daquela sensação recorre à um almanaque de fotos, para ter lembranças de outras épocas, quando não estava lotada de medo.

Pois essa é a realidade: nós vamos morrer e não há nada depois disso; não há redenção. Viva do agora, da arte e, acima de tudo, do amor.

NOTA:





9 Jokers!



Trailer:


NOTAS DA EQUIPE:
Vinicius: 9/10
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