quinta-feira, 7 de março de 2013

[Crítica] Django Livre

Jamie Foxx 30Ago2012
Apesar de não ter tido tanto destaque (e genialidade) como nos anos 90, para o novo século o diretor Quentin Tarantino fez grandes trabalhos e pode sim se considerar como um dos melhores diretores em ativa. Visto por muitos cinéfilos como arrogante (repare no diálogo final de Bastardos Inglórios: " é, eu acho que você fez sua obra-prima aqui"), o cineasta é, na verdade, livre de convencionalidades, o que sempre ajuda a construir seu mundo e sua moral (ou falta de) nos seus filmes.

Django Livre poster 12Nov2012Em Django nada está diferente. As referências, a violência, os diálogos, humor negro e o trabalho maluco de roteiro ficam firmes e claros.

Na história, Django é um escravo liberto que, sob a tutela de um caçador de recompensas alemão (que será vivido por Christoph Waltz) torna-se um mercenário perigoso. Depois de auxiliar seu mentor em alguns trabalhos por dinheiro, os dois partem para uma missão pessoal: encontrar e libertar a esposa de Django das garras de um fazendeiro inescrupuloso.

Depois de obra-primas como Pulp Fiction, Cães de Aluguel e Bastardos Inglórios, Tarantino verdadeiramente se encontra aqui: ele faz seu filme mais Tarantino, que mais condiz com seu universo e sua proposta artística. Não que seja seu melhor filme; não é. Mas tinha tudo para ser...

Contando com um elenco estelar, fica impossível não reconhecer as atuações como um dos principais méritos do longa. Christoph Waltz tem um papel muito semelhante ao seu filme anterior em parceria com o diretor, mas a forma como mantém o cinismo em seu personagem, equilibrando com ironia, é fantástica. Leonardo DiCaprio é outro: esqueça o garoto inseguro de Titanic, aqui ele se mostra como uma das melhores atuações dos últimos tempos, mantendo-se seguro a todo momento, e num personagem difícil, visto que ele varia de expressões muito facilmente, entre a falsidade calma e a pura raiva. Jamie Foxx conduz um personagem cru, fica firme nas expressões pesadas. Samuel L. Jackson está desfigurado, uma outra pessoa - em resumo, impecável.

Claro que nada adiantaria que Waltz fica-se com seu cinismo irônico se não fosse a direção hilária de Tarantino: seu enquadramentos e cortes rápidos ajudam a dar uma dinâmica sarcástica no filme. Assim como as referências à westerns (acho que vale avisar que o filme favorito do diretor é Três Homens em Conflito) continuam bem colocadas e podemos perceber, por exemplo, que a cena dos cavaleiros mascarados a noite lembra muito True Grit e o excessivo (mas necessário) uso de flashbacks é uma clara influência de Era Uma Vez no Oeste, de Sérgio Leone.
DiCaprio na melhor atuação dos últimos tempos

Apesar de sempre excelente atrás das câmeras, sempre apoiei que o grande destaque de Tarantino é em seu trabalho com o roteiro. Aqui, os diálogos inteligentíssimos e muito bem bolados para construção de clima (na maior parte dela, humorística) continuam - e talvez sempre continuarão, como marca de seus trabalhos. O surrealismo também continua, com uma violência caricata, absurdos acontecendo, troca repentina da trilha sonora, que resultam em "clichês" (no sentido positivo) carismáticos. É isso que amamos nele: a diversão levada ao ápice.
Porém, Django Livre comete um deslize considerável, que o impede de ser a obra-prima que poderia ser: sua irregularidade. Em quase três horas de filmes, Tarantino muda de comédia para ação e suspense drasticamente, dando uma sensação de vazio. Se nos primeiros 40 minutos quase choramos de rir com o humor negro do filme, é estranho que nas outras 2 horas de produção não haja mais isso: ficamos imersos na tensão (muito bem construída, claro) com apenas algumas piadas aqui e acolá. Seria melhor um equilíbrio, dividir as sensações (algo muito bem feito no redondo Bastardos Inglórios) ou crescer (o riso e a empolgação são crescentes em Pulp Fiction). Enfim, não chega a comprometer o filme, mas atrapalha de ser um dos melhores, pois potencial tinha.
Ainda assim, é Tarantino: ácido e genial. E dessa vez, melhor: crítico! Retratando a falsidade da alta sociedade, pseudo-civilizada mas que não hesita em torcer loucamente ao ver dois homens lutando (alfinetada no UFC, por exemplo), e ainda impõe que os desavantajados sejam o lado sombrio que eles não querem mostrar (não são os lutadores os selvagens, são os que incentivam: os que assistem), num ciclo que mostra que a verdadeira prisão é a riqueza que custa sua verdadeira face.
Django, em um momento da película, chama o personagem de Samuel L. Jackson de "puxa-saco". O protagonista não está atrás de libertar os negros da escravidão, tanto que quando tem uma primeira chance, mata o personagem que havia xingando anteriormente; ele quer destruir a falsidade. Mesmo no meio de tanta matança e desonestidade, no mundo de Tarantino, o maior crime é o cinismo - este que corrompe nossa sociedade até hoje.

É, talvez não tenhamos mudado tanto desde o Velho Oeste.

NOTA:
8 Jokers!

Trailers:


NOTAS DA EQUIPE:
Vinicius: 8/10
Gustavo: 9/10
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