quinta-feira, 7 de março de 2013

[Crítica] Cloud Atlas

Lá em 1999, o mundo se surpreendeu com um dos projetos mais ambiciosos do cinema contemporâneo e um dos melhores filmes que a ficção científica já produziu: Matrix. Porém, seduzidos pelo poder ($) não custou muito para que os talentosos irmãos Wachowski contradissessem todos os grandes conceitos em continuações (Matrix 2 e 3). São por esses e tantos motivos que todos estavam com o pé atrás para o que prometia ser seu novo projeto grandioso para a fantasia: Cloud Atlas (me recuso a chamar pela tradução - "A Viagem").

Fica claro que aqui o trio de diretores (os irmãos + Tom Tykwer) querem voltar à um tema já desenvolvido em sua primeira (e talvez única) obra-prima, numa tentativa de manter uma marca, uma coerência. E esse tema é a "quebra de barreiras". Hey, potencial é o que não falta!

Potencial que segue seis histórias que vão e voltam no tempo, com personagens que se cruzam, desde o século 19 até um futuro pós-apocalíptico, cada um deles narrador de sua história, de um simples viajante no Oceano Pacífico em 1850 à uma jornalista durante o governo de Ronald Reagan na Califórnia. "Tudo está conectado" anunciavam os cartazes... Será mesmo?

Contando com uma direção de arte magnífica, que consegue criar ambientes únicos e ricos em detalhes, Cloud Atlas atravessa diversos lugares e épocas, nos fazendo acreditar nisso: desde a cidade futurista até os tempos mais primórdios, os efeitos especiais, figurinos e as maquiagens (essas que são uma das mais belas que já pude presenciar) acrescentam elementos particulares e diferenciados para cada narrativa, só aumentando o tom de grandiloquência da produção.
Porém, se tecnicamente os Wachowski mantém-se impecáveis, o mesmo não se pode dizer estruturalmente. Por mais que a montagem se esforce em estabelecer uma conexão por meio de elementos principais de cada cena (percebam que na troca da fuga dos asiáticos para a cena da jornalista afogada, a água se mantém), nada é ajudado com os cortes em momentos errados (do climático para o anti-climático). Então, quando estamos começando a nos empolgar com a ação da distopia sci-fi, não há como não se decepcionar quando do nada simplesmente passamos para a trama de velhos tentando fugir de um asilo (por mais que esta seja engraçada).

Já o elenco estelar faz jus a fama: todas as atuações são impecáveis e mostram a versatilidade de cada ator. Tom Hanks trabalha muito bem a mudança de entonação de voz e varia com sutiliza suas expressões, exatamente para manter uma essência em cada um de seus personagens (que na verdade são o mesmo). Halle Berry é outro destaque: como todos os seus papéis principais (já que todos fazem uma ponta em cada trama) são dramáticos, a atriz carrega muito bem o peso evocando com muita sensibilidade o sentimento de cada situação (todas diferentes mas melancólicas). Hugo Weaving também fica firme como vilão definitivo, investindo em expressões tão obcecadas quanto as do Sr. Smith (Matrix) - não que sua participação como enfermeira do asilo não seja de matar de rir. Enfim, todas as atuações são do nível ótimo para excelente.
Cena linda, by the way

A direção também é eficiente, sendo que os Wachowski conseguem equilibrar muito bem o clima de cada situação, já que o longa é uma grande mistura de todos os gêneros: suspense, drama, ação, aventura, comédia, romance e até uma ponta pornô! Muito é refletido na trilha sonora, outro elemento que varia muito, mas consegue ser tensa e emocionante na hora que quer (destaque para o lindo Sexteto Cloud Atlas, que carrega todos os momentos-chave do longa).
Mas Cloud Atlas é ambicioso: quer ir mais longe, quer alcançar mais. Se Matrix narrava a quebra de realidades, da verdade e da mentira, esse novo filme quer quebrar mais barreiras, abordar mais temas. Assim os Wachowski fazem um verdadeiro "jogo de encontros". É a liberdade contra a prisão; ação contra conformismo; riqueza contra pobreza; amor contra preconceito; arte contra o vazio; vida contra a morte; novo contra o velho; liberal contra o conservador; uma total quebra de espaço e tempo.

É uma pena, portanto, que o filme caia em falácias comprometedoras. Tentando passar uma mensagem (aqui, na verdade, soa mais como imposição de ideias) de que existe vida após a morte, o roteiro aborda tal tema de forma tão clichê, boba e ingênua que qualquer pessoa que não seja muito chegada em espiritismo será distanciada facilmente (acho que aqui até os que creem em tal coisa devem reconhecer o quão forçado esse "argumento" é construído).
Como se não fosse o suficiente, ainda somos levados a "crer" que nossas ações "altruístas" devem ser realizadas para ganharmos recompensas no nosso futuro (ou "próximas vidas"). Então, não devemos fazer tais ações por nossas essências, mas sim por egocentrismo?

Ironicamente, essa é a principal barreira de Cloud Atlas: não conseguir unir e crença com a descrença, o otimismo com o pessimismo, o irreal com o verdadeiro. Temas abordados de forma muito melhor em Matrix.

NOTA:





5 Jokers


Trailer:


NOTAS DA EQUIPE:
Vinicius: 5/10
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