quinta-feira, 7 de março de 2013

[Crítica] Lincoln


É engraçada a experiência que tive com o cinema essa semana: enquanto tive grandes dificuldades para comentar O Mestre, um filme cheio de conteúdo, críticas e simbolismos, me fazendo pensar ao extremo, também tenho que comentar Lincoln, mais novo - e péssimo - trabalho do pra mim já falecido Steven Spielberg (o que não leva a grandes dificuldades, pois é tão óbvio e chulo que uma criança de 8 anos poderia comentá-lo).

Lincoln narra a vida do presidente americano Abraham Lincoln, centrando na condução do Norte à vitória na Guerra da Secessão.

Alguns dizem que Spielberg é ruim para fazer dramas pela sua mão carregada; eu discordo. A Lista de Schindler é o maior exemplo disso, visto que todos os personagens eram complexos e a direção (o uso da fotografia, em especial) tinha grande sensibilidade - por mais que, sim, tenha seus exageros. O mesmo já não pode ser dito deste último trabalho - claramente feito para ganhar o Oscar (uma premiação boba e superficial, que nada entende sobre cinema).

Fica clara a tentativa de Spielberg de segurar o barco na condução da narrativa, tanto que ele prefere planos longos e um raro uso da trilha sonora - mas nada disso tem significado. Mas quando chegam os que eram pra ser "grandes momentos" vemos como o diretor falha pela pieguice. Filmando o presidente sempre de ângulos baixos, o engradecendo na perspectiva dos outros, o diretor não quer só trata-lo como entidade divina, mas como também quer elevar todos seus atos à um nível épico. Quando vemos Lincoln sentado e falando, a câmera o capta pelo perfil e o ilumina de cima, sem sentir vergonha da teatralidade pobre. Pior ainda é que em todos os diálogos que envolvem o presidente, Spielberg gira a câmera em volta - o que me fez questionar se não estava vendo um filme do Michael Bay. A trilha sonora de John Williams é daquelas genéricas de novela.


Daniel Day-Lewis conduz o papel de protagonista de forma irregular; existe uma composição sensível e meticulosa, transformando o personagem em uma figura serena, mas não menos humana. É uma pena que ele ceda a momentos patéticos, utilizando muletas de atuação (apontar o dedo, bater as mãos na mesa). Mas isso é recompensável já que Tommy Lee Jones cai inteiramente nessas armadilhas.

Mas Lewis está longe de ser o culpado; esse é o roteiro. Contando com um péssimo desenvolvimento de personagens, beirando do insonso até o extremo do irritante. Lincoln é um personagem unidimensional, que precisa de puro maniqueísmo para ficar engrandecido, sendo também apontado como o único responsável pela abolição (porque os negros não lutaram e, na verdade, ficaram esperando a salvação, né, senhor Spielberg?!). Da mesma forma como a personagem de Sally Field é irritante até os nervos, já que como se não bastasse as expressões novelescas e caricatas da atriz, também é desenvolvida de forma péssima - o ápice disso é quando ela começa a reclamar que o marido será lembrado mas ela não.


Aliás, esse tipo de diálogo expositivo é o que não falta na película: desde o óbvio (hãm, será que tal coadjuvante dirá "sim"???) até o lamentável - temos o direito de ouvir "não acredito que disse isso" e "não quero te perder, filho". Existe também muito falatório político que nada acrescenta à trama.

Isso sem contar a forma ingênua como a personalidade de Lincoln é retratada: este precisa citar um monte de falas, questionar bobagens e dar conselhos caseiros para se provar "sábio". Em um certo momento não há como deixar de se identificar quando um personagem profere: "não aguento mais ouvir suas histórias!".


O excesso de dramaticidade, de abordar um tema óbvio (sério mesmo que a escravidão foi algo ruim!?!?) e muita construção pra pouco tornam este novo filme de Spielberg um dos mais redundantes dos últimos tempos. Fica claro que o filme só quer que você chore quando ele coloca a morte do presidente para logo depois usar um flashback (dos pobres, diria) com uma música emotiva - era mais fácil apontar logo uma arma pra minha cabeça e exigisse que eu caia no choro. Mas, na verdade, eu chorei sim: chorei pela carreira de um grande diretor; pela superficialidade de uma premiação infectando o bom cinema.

Ao menos ele não fez tão mal quanto Abraham Lincoln - O Caçador de Vampiros.

NOTA:





3 Jokers!



Trailer:


NOTAS DA EQUIPE:
Vinicius: 3/10
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